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Natural de Progresso Janaíne Trombini participa do livro da imigração italiana

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Publicado em 30/05/2021 às 23h15min

 

Natural de Progresso professora Janaíne Trombini participa do livro da imigração italiana no vale do Taquari.

Natural de Progresso e residindo em Lajeado, a doutora em ciências, ambiente e desenvolvimento pela Univates e professora, Janaíne Trombini, escreveu um dos artigos do livro, sobre a imigração italiana no Vale do Taquari.

Com mais de cinco anos de pesquisa na área, o artigo é parte da tese de doutorado intitulada “História ambiental e espacialidades ítalo-brasileiras: um comparativo em territórios no norte italiano e ao norte do Rio Taquari/RS”.

Segundo Janaíne, os imigrantes do Vale se instalaram primeiro nas colônias germânicas já existentes de Conventos (1855), composta por Sério, Progresso, Pouso Novo e Travesseiro; Encantado (1882), abrangendo Encantado, Muçum, Arvorezinha, Ilópolis, Anta Gorda, Nova Bréscia e Coqueiro Baixo; e sul da colônia Guaporé (1892), com Dois Lajeados e Muçum.

A pesquisa explica que o Vale do Taquari era, tradicionalmente, um território indígena, colonizado por portugueses que trouxeram os negros. Depois vieram os açorianos, os alemães e, por último, os italianos, completando o processo étnico-cultural da região.

 

 

150 anos da saga italiana no estado


Publicação lançada nesta semana detalha o processo migratório dos italianos ao Rio Grande do Sul. Criação das primeiras colônias no estado ocorreu em 1870. No Vale do Taquari, os imigrantes construíram as primeiras instalações em 1882, na colônia de Encantado

Roseta Colognese chegou ao Brasil com quatro anos, em um navio a vapor que desembarcou em São Paulo. Depois de ajudar a família na produção de café, foi para Dois Lajeados, onde criou os filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Ela veio de Verona, na Itália, e hoje, com 104 anos, é a última imigrante viva da segunda leva de italianos que colonizaram o Vale do Taquari.

“Ela conta que a viagem levou entre 30 e 40 dias, e como era ainda criança, só lembrava de ver muita água no caminho”, diz a neta Aneli Zonatto Buratti, 60.

Até poucos anos atrás, Roseta ainda preparava a polenta, um prato típico da família, e passou o gosto da música italiana para as gerações que vieram depois. A imigrante vive na Linha Alegrete, em um terreno próximo de onde residiu quando chegou ao Vale do Taquari, mas a casa daquela época já não existe mais.

 

História da imigração no Vale


Esse processo migratório de milhares de italianos que vieram ao estado faz parte da obra literária “150 Anos de Imigração Italiana no Rio Grande do Sul”, lançada no início da semana.

A coletânea, com mais de 1,2 mil páginas, é dividida em três volumes e foi organizada pelo escritor e jornalista Ademir Antônio Bacca, e por Luis H. Rocha, no projeto proposto pela Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari (AAMoinhos).

A obra foi financiada pela Lei de Incentivo à Cultura Federal, e celebra os 150 anos da criação das primeiras colônias italianas no estado, Conde d’Eu e Dona Isabel, hoje Garibaldi e Bento Gonçalves, em 1870.

 

Natural de Progresso e residindo em Lajeado, a doutora em ciências, ambiente e desenvolvimento pela Univates e professora, Janaíne Trombini, escreveu um dos artigos do livro, sobre a imigração italiana no Vale do Taquari.

Com mais de cinco anos de pesquisa na área, o artigo é parte da tese de doutorado intitulada “História ambiental e espacialidades ítalo-brasileiras: um comparativo em territórios no norte italiano e ao norte do Rio Taquari/RS”.

Segundo Janaíne, os imigrantes do Vale se instalaram primeiro nas colônias germânicas já existentes de Conventos (1855), composta por Sério, Progresso, Pouso Novo e Travesseiro; Encantado (1882), abrangendo Encantado, Muçum, Arvorezinha, Ilópolis, Anta Gorda, Nova Bréscia e Coqueiro Baixo; e sul da colônia Guaporé (1892), com Dois Lajeados e Muçum.

A pesquisa explica que o Vale do Taquari era, tradicionalmente, um território indígena, colonizado por portugueses que trouxeram os negros. Depois vieram os açorianos, os alemães e, por último, os italianos, completando o processo étnico-cultural da região.

 

Os primeiros imigrantes

Transformações sociais, políticas e econômicas do mundo capitalista fizeram com que muitos italianos migrassem para a América em busca de melhor qualidade de vida.

Os primeiros imigrantes do Vale do Taquari foram João Batista Lucca, Antônio Bratti e outras 15 famílias, vindas de San Pietro Valdastico para a colônia de Encantado, em 1882. Entre elas, as de sobrenome Fontana, Secchi e Bertozzi.

A viagem de navio levava entre 40 e 50 dias, com destino ao porto de Porto Alegre. Quando chegavam em terras gaúchas, os imigrantes eram transportados em carroças ou iam a pé até seus lotes coloniais.

No início, o governo brasileiro dava subsídio de estadia, alimentação e ferramentas para o trabalho. Feijão, milho, trigo, porco e erva-mate eram as principais produções naquele tempo.

Eles se instalavam em áreas de maior altitude e relevo acidentado, com pequenas propriedades, intensificando a produção agrícola e excedentes. Assim, era possível acumular capital e investir em novos empreendimentos comerciais e industriais.

Em terras brasileiras, os imigrantes mantiveram os costumes da terra natal, mas também passaram a cultivar e alimentar-se de novas culturas, além de utilizarem técnicas para o preparo da terra aprendidas com quem já vivia no país.

Eles também criaram um novo estilo na construção de casas e igrejas, modificaram a língua natal e começaram a se relacionar com habitantes que já ocupavam o território, como indígenas, negros, luso-brasileiros e alemães. Relações essas que deram origem ao povo diversificado que ocupa o Rio Grande do Sul, hoje.

Para contar a história da imigração, Janaíne também visitou a Itália, e entrevistou famílias das regiões de Vêneto, Lombardia e Trentino Alto-Àdige, locais de onde vieram os imigrantes do Vale. Ela também conversou com 24 famílias da região com descendência ítalo-brasileira. Entre elas, a família Rosset, que vive hoje em Ilópolis.

Viagem de navio levava cerca de 50 dias. Após chegada em Porto Alegre, famílias se deslocavam à carroça aos lotes coloniais 

 

De Trichiana para Ilópolis

“O avô do meu bisavô era Giovanni Rosset e veio com a família de Trichiana, na província de Belluno, em 1878”, conta o agricultor e vereador Thiago Rosset, 20. Ele faz parte da quinta geração da família no Brasil, e conhece a história dos antepassados pelos relatos do bisavô José Timóteo Rosset, o Téo.

O pai de Giovanni se chamava Franchesco Rosset e a mãe, Maria Moro. Com seis filhos, se instalaram na colônia em Bento Gonçalves quando chegaram ao Brasil. A viagem levou cerca de 40 dias, em um navio a vapor.

Lá, os irmãos se dividiram. Giovanni foi para Itapuca, em Anta Gorda e, mais tarde, os filhos dele se instalaram em São Francisco, Ilópolis, nas terras que ainda hoje pertencem à família Rosset.

A mãe de Téo, Elisabet Maria Zuccolotto, casada com Reinaldo Rosset, também veio da Itália, e chegou ao Brasil no início de 1900, com oito anos. “Naquela época o Brasil estava sendo colonizado, quase não tinha ninguém e o governo fazia propaganda. Os italianos vinham procurar uma vida melhor nas terras brasileiras”, explica Thiago.

Mas por falta de dinheiro para as passagens de navio a vapor, a viagem da família Zuccolotto levou cerca de três meses em um navio veleiro. Quando chegaram ao Brasil, se instalaram primeiro em Caravágio, depois em Anta Gorda e, mais tarde, em Ilópolis.
Tanto a família Rosset quanto Zuccolotto transformaram as matas que existiam no Vale do Taquari em terras colonizadas onde criavam vacas leiteiras, porcos e galinhas e plantavam milho, trigo e feijão. No início a renda era pouca e o trabalho era para o sustento da propriedade.

Mais tarde, passaram a vender queijo, ovos e animais. As mercadorias eram transportadas em cavalos. Há cerca de 40 anos, as terras em Ilópolis passaram a cultivar, também, a erva-mate, que é plantada ainda hoje na propriedade. Nessas terras, também havia parreiras de uva e produção de vinho.

Como Ilópolis ainda não era uma cidade e pertencia à colônia de Encantado, os registros de nascimento das crianças ou a assinatura de documento para compra de propriedades tinham que ser feitos na colônia. Só mais tarde as famílias começaram a se organizar em vilas e ter uma sociedade civil própria.

Há três anos, Thiago fez um intercâmbio para a Itália e visitou a região de Trichiana, na comunidade onde a família Rosset veio. As ruínas da casa de pedra ainda estão no local. Na propriedade ainda moravam descendentes com sobrenome Rosset.

 

A obra literária

A iniciativa surgiu quando Ademir Antônio Bacca percebeu que a história da imigração italiana no estado era fragmentada e decidiu reuni-la em um único projeto. O primeiro volume da obra contou com a participação de 44 historiadores, mas cerca de 200 autores colaboraram.

“O livro conta a história de uma maneira que nunca foi apresentada antes. Acredito que acabamos fazendo um dos maiores documentos da imigração italiana até então”, destaca o escritor.

Segundo Bacca, uma nova publicação sobre o tema será feita em quatro volumes, contando as relações de trabalho resultantes da colonização italiana no RS. Também serão escritos volumes extras contando a história de outras famílias com descendência italiana. Até 2025, a ideia do projeto é reunir 10 volumes dos 150 anos dessa história no estado.

Também fará parte deste projeto, a produção de uma série documental com seis episódios, com a participação dos historiadores que fizeram parte da elaboração do livro.

 

Vestígios da arquitetura italiana no Vale

A obra é também composta pelo artigo do cineasta Cleber Zerbielli, nascido no Vale do Taquari, sobre a arquitetura italiana na cidade de Ilópolis. Segundo ele, as casas feitas de madeira pelos primeiros imigrantes italianos já não existem mais na região, por serem feitas de madeira e pelas próprias famílias, de forma não profissional.

Por outro lado, ele destaca, no texto, duas construções em Ilópolis que representam a arquitetura chamada “Chalet Alpino”, características dos alpes europeus, construídas na cidade por artistas italianos do segundo fluxo migratório ao Brasil, depois de 1920.

Segundo ele, não há registros de outras casas neste estilo no país e, apesar de muitos acreditarem serem construções tradicionais da imigração italiana, elas são, na verdade, raras. “O que tem de tradicional nelas é o uso da madeira”, destaca.

fonte:grupoahora

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