Economia

Efeitos da guerra podem encarecer pãozinho no Brasil

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Publicado em 15/03/2022 às 00h10

 

Efeitos da guerra podem encarecer pãozinho no Brasil, alerta economista

 

A Ucrânia anunciou na tarde desta quinta-feira (horário do Brasil) que suspendeu todo o transporte comercial marítimo do país, devido à invasão de seu território pela Rússia.

Com isso, as cotações do trigo, que já estavam em alta, dispararam e subiam 5,65% às 12h30. Segundo relatos locais, já há uma fila de 100 navios presos na entrada sul do Estreito de Kerch, que conecta o Mar Negro ao Mar de Azov. Dezenas de navios trafegam por este estreito diariamente com commodities, como grãos e aço.

Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido afetado economicamente pelo conflito com a Ucrânia, explica a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados

O consumidor brasileiro já começará a sentir os efeitos da guerra no preço do café da manhã nos próximos dias, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). Segundo o economista ouvido pela CNN, o quilo do pão francês pode chegar a R$ 20 em algumas cidades.

De acordo com a associação, isso deve ocorrer quando as indústrias comprarem as novas safras. A Abimapi afirma que a disparada da cotação do trigo começa a ser sentida pelos fabricantes nas negociações com os fornecedores, mas ainda existe a entrega de farinha compromissadas em contratos antigos.

Diante da nota divulgada pela Abimapi, em conversa com a CNN, o economista e professor do Ibmec Gilberto Braga observa que os consumidores brasileiros já estão sofrendo os efeitos da guerra em relação ao preço dos itens relacionados ao trigo. Gilberto acrescenta que, com a continuidade do conflito marcado pela Ucrânia e a Rússia, é possível que os preços das commodities aumentem.

“Embora ainda não tenha sido capturado nos indicadores de pesquisa oficiais, o consumidor percebe um aumento de, aproximadamente, 20% a 25% no preço do pão nas padarias e supermercados. Isso já sinaliza um aumento do preço do trigo na formulação do produto. A continuidade da guerra poderá decretar ainda um período de novos aumentos, mas é bastante provável que esse patamar mais caro continue, pelo menos até que se tenha uma previsão de quando o conflito da Ucrânia poderá terminar”, completa.

O economista avalia, ainda, o preço do quilo do pão localizado em padarias do Rio de Janeiro. Segundo o professor, antes da crise, o valor variava entre R$ 9 a R$ 12, mas agora o quilo está sendo vendido entre R$ 15 a R$ 20.

A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido afetado economicamente pelo conflito com a Ucrânia, afirma a Abimapi. Juntos, os dois países respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo.

A associação explica que o Brasil produz menos da metade do trigo consumido e precisa importar grandes quantidades do grão de países como a Argentina, Canadá e os Estados Unidos. O aumento do preço do trigo, para a Associação, impacta diretamente os valores de produção para os fabricantes de produtos como biscoitos, massas e bolos. A AbimapiI frisa que, nas massas, em média, 70% do custo é de farinha. Nos biscoitos, o peso é de 30%, e nos pães e bolos industrializados, de 60%.

Gilberto Braga ressalta que, embora o Brasil não seja um comprador direto dos países em conflito, ele terá um gasto elevado com o grão devido à alta demanda do mercado.

“O Brasil importava muito pouco trigo da Rússia, mas ele precisa continuar comprando no mercado que deixou de ser estabelecido pela Rússia. Então, com esse fator, o preço se elevará e nós temos que pagar mais caro, o que influencia no preço de comercialização interna. Isso resvala no custo do pão, massas e tudo relacionado a essa commodity”, diz o economista.

 

Guerra na Ucrânia deve encarecer o pãozinho

Preço do trigo disparou após conflito entre Rússia e Ucrânia, que são responsáveis por 30% das vendas mundiais do cereal. Especialistas dizem que impactos devem chegar, em breve, na farinha, pão e massas.

O brasileiro vai pagar mais caro pelo pãozinho francês e massas nos próximos meses. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o preço do trigo disparou no mercado internacional e, em breve, começará a ser repassado a seus derivados, avaliam economistas.

Os dois países respondem, em média, por 30% de todo o cereal comercializado no mundo e, com a guerra, o valor do produto na Bolsa de Chicago (EUA) chegou a subir quase 40% entre 23 de fevereiro e 7 de março, diz o especialista de trigo da consultoria Safras & Mercado, Élcio Bento.

A alta no mercado externo mexe com os preços de todos os países, inclusive com os da Argentina, de onde vem 85% das importações brasileiras de trigo, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Dois terços do cereal consumido no país vem outros países.

"O reflexo [nos preços dos pães e massas] tende a ser imediato. O trigo que está sendo usado, neste momento, para fazer farinha foi comprado por um valor menor. Mas, se você pensar como empresa, ao saber que a matéria-prima vai aumentar, você começa a repassar preço rapidamente", diz Bento.

Segundo ele, os estoques de trigo mais barato devem acabar, aproximadamente, em abril, mês em que, para o economista, o aumento de preços deve começar a ser sentido no bolso do consumidor.

Farinha e derivados em alta
 

A farinha de trigo já acumula alta de quase 15% em 12 meses até fevereiro, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na sexta feira (11).

O pão francês, por sua vez, subiu menos (7%), enquanto o macarrão (12%) e as massas semipreparadas (10%) avançaram mais.


Lucilio Alves, professor da Faculdade de Agricultura da USP, lembra que não é somente o trigo que tende o pressionar o valor da farinha e seus derivados.

"O trigo representa menos de 50% do custo da farinha e, quando esta vai para o atacado e varejo, novos custos são incorporados, como transporte e tributação", diz ele.

Por que o preço do trigo disparou?

Apesar do preço do cereal ter se arrefecido nos últimos dias, economistas avaliam que a tendência é que o valor do cereal continue pressioado. 

Para Alves, a disparada dos preços é explicada pela importância da Rússia e Ucrânia no mercado de trigo e as incertezas sobre até quando o conflito vai se estender.

Apesar do preço do cereal ter se arrefecido nos últimos dias, o economista avalia que a tendência é que o valor do cereal continue pressionado.

A Rússia é o principal exportador de trigo do mundo, enquanto a Ucrânia o 4º maior. É previsto que os dois países contribuam com 52 milhões de toneladas de um total de 203 milhões toneladas exportadas na safra 2021/22, diz Alves.

"Temos uma restrição no transporte marítimo. Todos os portos da Ucrânia estão paralisados. Já na Rússia, temos alguns em funcionamento. Diante deste cenário, países que compram trigo da Rússia e da Ucrânia, como nações africanas, parte do Oriente Médio e Ásia passaram a demandar trigo de outros países, como os da América do Norte e Sul", diz Alves.

Por causa desse redirecionamento de mercado, o Brasil tende a ganhar novos concorrentes na compra de trigo argentino. "Portanto, novos contratos de importação certamente virão com valores superiores".

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